CHORO ALEGRIA OU LAMENTO- ARAGUAIA/XINGU
Neiva Gomes Coelho
Eu venho de muito longe
De um lugar bem diferenteOnde peixe se chama Jacinto
De porca quase que fala
Debaixo do pé de lima
Chorando se lamentando tentando olhar para cima .
Eu venho da mata verde
Da estrada boiadeira,
De passagem de pinguela.
Pra passar tem que adotar,
Nem mesmo que seja um santo
Tem gente que treme todo
Tem gente que treme todo
Enchendo o rio de pranto.
Eu vivo aqui no Xingu
Vivo de lá para cá,
Moro no meio da estrada
Levo meu coração,
Sem esquecer de nenhum.
Quando chego no Araguaia.
Terra do índio Karaja,
Do índio Tapirape
Lá logo mudo de nome, passo a chamar Marriqué,
E minha amiga Marrirú
Só não deixo de ser eu
Meu coração também chora, a morte de um ente meu.
Trago comigo um desejo,
Um pedido a Aruanã
Pra descobrir o segredo
Que perturba o povo meu
e talvez até salvá-los de um destino que não é seu.
Eu piso na areia gritante e espero amanhecer
Pra comprar peixe gostoso .
Que vem dentro da canoa
A deslizar nesta águas e parar cá, bem na proa.
Volto pra minha aldeia, onde meu povo me espera
Pra falar de educação
De coisas daqui de dentro, de coisas do coração.
Pra ouvir historia de Quexada
Que bate um dente no outro
Soltando lavras de fogo
E incendiando toda a mata,
Assustando todo meu povo..
Esse animal bem que devia
Subir bem devagarzinho
Deslizando rio acima e assim
Roer todinho o projeto com o fim
de construir a hidrovia
Araguaia/Tocantins.
Essa hidrovia que tende
A esvair dali toda a vida,
Que permeia este rio
Rio que inspira o poeta
Que guarda o espírito das águas
Nas suas noites de frio.
Eu venho do rio Xingu
Rio de águas turvas devido sua profundeza
Revela ali seus segredos e toda a sua beleza.
Tão falando de uma usina dizendo ser solução
Mas já trouxe contigo a morte de muito de meus irmãos
Eu venho da cachoeira, da cachoeira da onça.
Eu venho da cachoeira onde reina o urubu branco.
Das noites que o povo em festa.
Que dança Se pinta e enfeita
e entoando bem ali sua alegria, seu canto.
Eu trago comigo as redes,
Cheia de peixe e encanto.
Que vem não é só do rio
Mas da criação de um tanque.
É lá neste tanque que mora
Peixe com nome de gente
Peixe que chama jacinto.
Que reina naquele recinto.
Quem quiser morar aqui
Deixe tudo para trás,
Traga somente na mala,
uma grande decisão
Usina de belo monte para o meu povo não
Traga um olhar bem doce e muito amor no coração.
Pra defender o Araguaia e o grande Xinguzão.
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