sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Professora de Confresa faz poema em protesto a Usina de Belo Monte


CHORO ALEGRIA OU LAMENTO- ARAGUAIA/XINGU
Neiva Gomes Coelho

Eu venho de muito longe
De um lugar bem diferente
Onde  peixe  se chama Jacinto
De porca quase que  fala
Debaixo do pé de lima
Chorando se lamentando tentando olhar para cima .

Eu venho da mata verde  
Da estrada boiadeira,
De passagem de pinguela.
Pra  passar tem que adotar,
Nem mesmo que seja um santo
Tem gente que treme  todo
Enchendo o rio de  pranto.

Eu vivo no Araguaia
Eu vivo aqui no Xingu
Vivo de lá para cá,
Moro no meio da estrada
Levo meu coração,
Sem esquecer de nenhum.

Quando chego no Araguaia.
Terra do índio Karaja,
Do índio Tapirape
Lá logo mudo de nome, passo a chamar Marriqué,
E minha amiga    Marrirú
Só não deixo de ser eu

Meu coração também chora, a morte  de um  ente  meu.
Trago comigo um desejo,
Um pedido a Aruanã
Pra descobrir o segredo
Que perturba o povo meu
e talvez até salvá-los de um destino que não é seu.

Eu  piso na areia gritante e espero amanhecer
Pra comprar  peixe gostoso .
Que vem dentro da canoa
A deslizar nesta águas  e parar cá,  bem na proa.

Volto pra minha aldeia, onde meu povo me espera
Pra falar de educação
De coisas daqui de dentro, de coisas do   coração.
Pra ouvir historia de Quexada
Que bate um dente no outro
Soltando lavras de fogo
E incendiando toda  a   mata,  
Assustando todo meu povo..

Esse  animal  bem que devia
Subir  bem devagarzinho
Deslizando  rio acima   e assim
Roer todinho  o projeto  com o fim
de construir a   hidrovia
Araguaia/Tocantins.
  
Essa hidrovia que tende
A  esvair dali toda a vida,
Que permeia este rio
Rio que inspira o poeta 
Que guarda o espírito das águas
Nas suas  noites de frio.

Eu venho do  rio Xingu 
Rio de águas  turvas devido  sua profundeza
Revela ali seus segredos e toda a sua beleza.

Tão falando de uma usina dizendo ser solução
Mas já trouxe contigo a morte  de muito de meus irmãos

Eu venho da cachoeira, da cachoeira da onça.
Eu venho da cachoeira onde reina o urubu branco.
Das noites que o povo em festa.
Que dança Se pinta e  enfeita
e entoando bem  ali sua alegria, seu canto.

Eu trago comigo  as redes,
Cheia de peixe e encanto.
Que vem  não é só do rio
Mas da criação de um  tanque.

É lá neste tanque que mora
Peixe  com nome de  gente
Peixe que chama jacinto.
Que reina naquele recinto.

Quem quiser morar aqui
Deixe tudo para trás,
Traga somente na mala,
uma grande decisão
Usina de belo monte para o meu povo não
Traga um olhar bem doce e muito amor no coração.
Pra defender o Araguaia e o grande Xinguzão.

Nenhum comentário:

Postar um comentário